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Em um passado não muito distante, as placas de carros no Brasil ganharam uma letra em sua composição. Da mesma forma, os números de telefone ganharam um digito adicional. Nenhum desses dois movimentos mudou a forma de controle dos veículos e da telefonia, mas a adaptação foi necessária para atender o aumento na demanda de ambos, que estavam próximos ao limite da capacidade.
Mudanças também aconteceram quando as máquinas de escrever foram substituídas pelos computadores. Neste caso, a ordem das letras no teclado se manteve, mas novas funcionalidades foram agregadas à digitação como, por exemplo, a de apagar um texto já escrito, sem a necessidade de perder todo o trabalho do texto já digitado. A comparação também é válida quanto ao modelo de envio de mensagens curtas, inicialmente através de código Morse em relação as mensagens de texto SMS. O conceito de troca de informações se mantém, mudando apenas a tecnologia utilizada para a ação acontecer.
A internet vive um momento parecido. A tecnologia, que permite que computadores e dispositivos conectados à rede troquem informações, é conhecida como protocolo IP (Internet Protocol). Esta tecnologia vem sendo utilizada desde 1983 e, hoje, já não existem mais IPs disponíveis para comportar a quantidade crescente de dispositivos conectados à rede mundial de computadores.
Esse cenário no mundo digital é, particularmente, decorrente do advento da própria internet. Do que chamamos de IoT ou “Internet das Coisas”, o que significa que, além de smartphones, tablets, atualmente, geladeiras, roupas inteligentes também estão conectados à internet e enviam dados pela rede. O IoT vem para facilitar a vida das pessoas, por exemplo, semáforos, em um futuro não muito distante poderão receber informações dos veículos, diminuindo os congestionamentos, modelo conhecido como smart cities, as cidades inteligentes.
Assim como nos exemplos iniciais, a transição do atual protocolo IP, versão 4, para o novo padrão IP versão 6, conhecido por IPv6, deve ocorrer de forma transparente ao usuário, mas requer empenho de diversas entidades, empresas e profissionais, principalmente, os de engenharia de redes e segurança.
Com o esgotamento de endereços IP, muitos usuários são obrigados a compartilhar o mesmo IP de saída para internet, o que gera imediatamente dois problemas: deixar a navegação mais lenta e impossibilitar o uso de certos recursos, além de questões relacionadas a identificação do usuário. Com isso, quando um crime eletrônico acontece, como seria possível identificar de forma inequívoca o responsável pelo delito se dezenas de usuários estavam navegando na internet com o mesmo IP?
Imaginemos a utilização de um Wi-Fi público, em que muitos usuários compartilham o mesmo endereço IP para se conectar. Se um usuário mal intencionado faz uso daquela rede para cometer um crime, hoje, o estabelecimento não tem condições de oferecer às autoridades os dados de todos os usuário que estavam utilizando a internet quando foi cometido o delito. Ou seja, estamos vivendo um período de faroeste digital, onde não se tem controle absoluto do que acontece na internet, o que reflete a impunidade em relação aos crimes eletrônicos.
Com a transição e futura mudança definitiva do padrão iPv4 para iPv6, os profissionais vão ter que se adaptar a novos conceitos de redes e, no caso da segurança, estarem ainda mais atentos às novas formas de ataques e ameaças.
Enquanto que o acréscimo de uma letra às placas de carros não alterou a forma usada para controle e identificação dos veículos, a transição do IPv4 para IPv6 muda drasticamente os conceitos de configuração de rede aprendidos até então.
O desafio aos profissionais envolvidos nesse avanço está mais que lançado.
This analogy was originally published on 8th December and is available in the following alternative languages.